domingo, 23 de setembro de 2012

Dia 1 - Chegada à cela


02:45h, 23/09/2012, Calle Navasfrias nº8, que afinal era o nº4

Depois de uma viagem de quase 8 horas desde Lisboa, já pouco interessava a hora. Entrei com o meu avô e tio, procurando pela letra certa no terceiro andar, que, segundo a Inês, era o "mais longe do elevador e mais próximo das escadas". Três marmanjos não conseguiram decifrar qual seria a porta certa à qual tocar, portanto resolveram tocar em duas e experimentar a respectiva chave, com pouco sucesso. "Só me faltava mais esta". Quase quinze minutos passados, o cérebro do grupo, vulgo Sérgio Branco, tem a genial ideia de voltar ao hall do prédio, para experimentar a chave do correio nas caixas e verificar qual seria o apartamento correspondente. Ao que parece, era do lado oposto. Anteriormente tínhamos estado no prédio número 4, mas a porcaria do hall era de entrada dupla, dando o acesso aos dois prédios. Fomos então em direcção ao lado do prédio certo.

03:00h, 23/09/2012, Calle Navasfrias nº8, 3ºA, Quarto I


Assim que entrei no apartamento e vi o meu quarto, quis pegar nas malas e voltar para trás. Como se não bastasse o tempo queimado a tentar encontrar a porta certa, o meu quarto era pior que uma cela na Cadeia do Aljube: janela com vista para um pátio interior, com metade da vista cortada por uma parede e com uma largura do quarto quase inferior aos meus braços esticados de uma ponta a outra. Depois do avôzinho e do tio seguirem caminho, entrei em modo deprê, mas estava tão mal que nem para abrir a garrafa de Borba servi. Atirei-me para cima da cama e do monte de malas, e fosse o que Deus quisesse. Amanhã era outro dia.

05:00h, 23/09/2012, Calle Navasfrias, nº8, 3ºA, cela da Cadeia do Aljube

Como não eram horas decentes para ligar a quem quer que fosse, mandei uma mensagem de raiva à Inês, para a assustar com o meu feroz desagrado. Ou não. Meti-me a ouvir Florence para tentar adormecer. Abençoada mulher que me valeu cinco horas de descanso.

10:30h, 23/09/2012, Calle Navasfrias, nº8, 3ºA, ainda na cela da Cadeia do Aljube

Bateram naquela porcaria de porta e acordei sem sono nenhum. Abri, era um maluco qualquer, na casa dos 40 anos, que por acaso é o filho da senhoria, chama-se Joaquim e está a ocupar um dos quartos também. Estava nú a fazer a vida dele, e eu pensei: "Ah pronto, veja lá se estou a incomodar!"
Não percebi nada do que ele disse, mas era para eu assinar o contrato da cela. Só se fosse maluquinho. Vestiu umas calças (finalmente), e lá fomos tratar da negociata. Como ainda estava um quarto disponível, pedi-lhe se dava para o ver e depois decidir se queria mudar para esse ou não. Vida de cela não é para mim. Lá fui e o negócio lá se fez, com ele a ficar a ganhar mais uns trocos e eu a ficar mais feliz da vida. O Erasmus nessa altura já não me parecia um inferno, quando tinha um quarto tão mais acolhedor.

12:00h, 23/09/2012, Calle Navasfrias, nº8, 3ºA, Quarto III (és um quarto como deve ser e eu amo-te muito)

Comecei a mudar as tralhas, depois da Maria de Jesús (a madrecita do Joaquim) e a Cristina Branco (a madrecita do João) terem aceite a mudança de quarto. YUPIIIIIIIIIIIIIIIII. Fui logo para a varanda comemorar com uma cigarrada, quando vejo a Inês lá em baixo com os tios. Desci para os ajudar, entretanto depois da tralha estar toda cá em cima (as avós são todas iguais realmente...) fomos almoçar a um restaurante. Perguntaram se eu queria carne de cerdo e eu pensei que era veado. Vou ter nota 20 a espanhol, de certeza. De qualquer das formas, enchi a barriga, porque já não comia nada de jeito desde o almoço do dia anterior.
Quando voltei, resolvi armar-me em dono de casa, mas como não tinha detergentes para o chão, fui perguntar ao Joaquim (também conhecido como senhor-maluco-que-anda-despido-quando-acorda ou filho-quarentão-da-senhoria-que-até-é-nice) se me sabia indicar algum supermercado. O gajo não é de modas, veste um fatinho e vem comigo à rua, mostrar-me onde eram os supermercados. Obviamente que estavam todos fechados porque é Domingo, mas o meu cérebro não é muito bom para pensar neste tipo de coisas. Quando voltei, resolvi que ia fazer as limpezas na mesma, e então lá foi a Isaura começar a limpar os móveis todos do quarto, com lixívia para desinfectar tudo e com Fairy para limpar o chão. Sou tão lindo que alguém me devia dar um prémio (entretanto como já todos sabem a minha morada, estão à vontade para o fazer). Arrumei a minha roupa toda no armário e apercebi-me que tenho mais roupa do que aquilo do que pensava. Entretanto fez-se tarde e a Inês sugeriu irmos jantar. Abençoada avó da Inês que fez os panados que comemos ao jantar e que souberam a caviar de gambas, regados (finalmente) com o Borba e com direito a bolo de chocolate, para celebrar o primeiro jantar oficial em Salamanca.
Em mais uma pausa para o cigarrito na varanda, ouvi uns doidos quaisquer a berrar perto da faculdade. Aquilo cheirava a praxes, novatadas! A Inês e eu não fomos de modas, e fomos a correr para lá, fazer de mirones, enquanto chovia e o vento fazia o favor de atirar-nos a água toda para os olhos. Fomos atrás da multidão até à Plaza Mayor, e foi engraçado ver a forma como eles fazem as "praxes" deles. Segundo um veterano, estas eram destinadas a alunos dos dormitórios da Universidade, com o intuito dos novatos ficarem a conhecer melhor os seus companheiros. Quando a chuva apertou, resolvemos voltar para trás. Entre lições de espanhol e entre andar perdido pelas ruas de Salamanca, demorámos quase 25 minutos, num percurso que estou certo que se pode fazer em 10.
Agora deveria estar a fazer a minha cama, tendo em conta que foi a única coisa que ainda não fiz, e a tomar um grande banho para me ir finalmente deitar (até porque amanhã tenho aula de Sistema de Garantias da Administração Pública às 9h da manhã), mas em vez disso estou aqui feito parvo em frente ao computador a escrever meia dúzia de disparates e a achar que alguém vai ter paciência para ler isto tudo. Até estou cansado só de pensar que amanhã tenho de ir ao Gabinete de Relações Internacionais tratar da papelada. matricular-me na faculdade, e às compras à tarde. AH, mais uma coisa: Amanhã sou eu a cozinhar (coitada da Inês que vai passar uma barrigada de fome...).
Vou mas é fazer o que tenho a fazer. Amanhã prometo que volto a fazer um relatório do dia. Ou não.

Vitória vitória, acabou-se a história.

P.S 1 -
Queria falar com a minha mãe no Skype, mas descobri que o meu portátil não tem WebCam. Inteligência é uma cena que não me assiste.
P.S 2 - Não tomo banho há mais de 24 horas, ainda assim tenho um armário cheio de produtos de beleza e higiene.
P.S 3 - Sou tão fabuloso.

4 comentários:

  1. Boa miúdo!eu li tudo ate ao fim e pareceu-me muito bem..diverte-te!!! E tenta fazer um jantar de jeito pra miúda sim xD
    beijo

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    1. Obrigado :DDD Vou tentar, mas não posso prometer nada, ahahaha
      Beijão :)

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  2. Saudades mil amigo...... aproveite bastante essa oportunidade unica....

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