quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dia 3 - Qual o próximo autocarro para Portugal?

Levantei-me da cama ainda morrer de sono por ter dormido umas escassas quatro horas. Pus o braço do lado de fora da janela: "Que briol do caralho!", o céu estava completamente cinzento e um vendaval do piorio (o que vale é que como estou com o cabelo à Doraemon, só daqui a umas semanas quando ele estiver maior, é que tenho de me preocupar com o facto do vento ser o meu pior inimigo).
Fui tomar banho, arranjei-me e já estava 10 minutos atrasado para a aula de Sistema de Garantias. Cheguei lá e não havia aula. Bela porcaria. Uma hora sozinho à seca. Parecia super entusiasmante. Aproveitei para ficar a conhecer melhor os cantos à faculdade, mas ao fim de alguns minutos a andar pelos corredores, já me parecia tudo igual e já estava a ficar enjoado de ver toda a gente tão feliz e contente em grupinhos enquanto eu andava por ali sozinho como um alien. Entretanto, já era hora de entrar para Sistemas Políticos. Lá fui eu, sentei-me ao fundo, sem sequer notar a entrada do professor. Um gajo de ténis, calças de ganga, t-shirt e camisa por cima. Espantou-me a falta de formalidade, no ISCSP até o funcionário do bar tem de estar de fatiota, quanto mais os professores. Ainda achei mais piada quando o gajo pega no microfone e começa a dar a aula assim, numa sala mais pequena que as salas normais do ISCSP. À parte do trabalho com vinte páginas que temos para entregar, o professor parece ser muito acessível. Honestamente esta pareceu-me ser a única cadeira interessante que tenho até agora. A minha vida é uma miséria.
Quando a aula acabou, achei boa ideia ir matricular-me, porque queria ter acesso ao Studium, que é a plataforma online equivalente ao Moodle, só que esta tem a diferença de ser realmente utilizada pelos professores, ao contrário do que acontece em Portugal. A minha ideia, acabou por ser uma ideia de merda, porque tive lá quase uma hora à espera, e apesar de ter feito a matrícula, só podia aceder à plataforma quando tivesse o cartão de estudante, que tem de ser levantado no Gabinete de Relações Internacionais, sendo que este último fica no centro da cidade e fecha às 14h. É uma coisa que me irrita extremamente, tudo o que aqui é útil, fecha às 14h para a siesta, mas já não volta a abrir. Belas adormecidas é o que eles são.
Cheguei atrasado à aula de Direitos Fundamentais, por causa da brincadeira da matrícula, e quando cheguei, já o Mario (o professor) estava a falar de um trabalho de grupo qualquer para fazermos. Explodi de entusiasmo nessa altura. YEAAAH, um trabalho de grupo para fazer e eu não conheço ninguém, que bom, que bom, que bom! Só me apeteceu espetar-lhe a cabeça contra o quadro. Ele tinha All Star calçados, o que achei super engraçado. Estava a imaginar o Rio Cardoso ou o Silvestre de All Star, ia ser um mimo.
Finalmente vim para casa almoçar. Não sei o que é que se passa cá em Espanha, mas parece que as minhas manhãs são sempre enormes. Se calhar tem a ver com o facto de não estar habituado a acordar tão cedo como tenho acordado e a ir às aulas. Mas bem, Erasmus é isso mesmo, novas experiências.
Da parte da tarde, tive aula prática de Hacienda Pública (aquela cadeira que é um mix de cadeiras repetidas, nomeadamente Economia Pública, Finanças Públicas e Contabilidade Pública), e o iluminado do professor lembrou-se de me perguntar uma coisa qualquer, sobre um exercício que eu não fiz, de um livro que eu não possuo. Obviamente que a sala inteira se voltou para mim, para verem a atracção do circo a falar. Curiosamente, respondi de forma correcta, sendo que aí o professor ficou muito contente, do género "o coitadinho conseguiu responder, vamos todos fazer-lhe uma festa". VÓMITOS.
Na aula a seguir, Técnicas de Investigação, só me apeteceu cortar os pulsos. Aquilo é igualzinho a Análise de Dados, e o velhote esteve duas horas a falar do meio ambiente e a explicar o que eram variáveis. Ninguém merece. O Ramos Pinto em duas horas já tinha dado matéria suficiente para exame. Enfim. Como se não bastasse estar a chover a potes, já serem nove da noite, ter tido aquele dia merdoso, cadeiras super desinteressantes, o facto de pensar que aquilo ia durar cinco meses, só me fazia pensar em desistir. Estive a um danoninho de começar a chorar. Quando cheguei a casa, a Inês estava com o mesmo espírito que eu.
Depois de fazer as queixinhas todas à mãe, falei com a Inês e resolvemos ir sair. Estava a chover mas azareco. Era a festa de boas vindas a estudantes Erasmus, queríamos tentar conhecer pessoas. Valeu a pena. Conhecemos um português, de Castelo Branco, uma portuguesa a estudar Medicina, duas francesas e outra rapariga que não faço ideia de onde era. Não me lembro do nome de nenhum deles, mas tenho esperança que a Inês os adicione no facebook. A festa tinha um concurso incluído, o "kissing contest" que foi a coisa mais divertida a que assistimos: duas lésbicas a comerem-se no palco à força toda e um americano e uma loira quase nús a fazerem o mesmo. O que as pessoas fazem por 30 euros. Aquilo estava longe de ser um concurso de beijar.
Voltámos para casa, todos molhados, cheios de frio, mas muito mais animados e divertidos. Valeu a pena.


Nota mental: Não levar os All Star para ir sair à noite quando estiver a chover, vou ficar com os pés todos encharcados.

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