segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dia 2 - ¿Puedes ayudarme por favor?


PUTA MADREEEE! 

Já não podia com o barulho do despertador. Tive de render-me à evidência que ia chegar atrasado para o meu primeiro dia de aulas, apesar da faculdade estar apenas à distância de quatro minutos de minha casa. Lá fui eu com meia hora de atraso.
"¿Puedes ayudarme por favor? Dónde es la clase?", aqui valeram-me duas temporadas de Físico-Química. A procura pela sala foi desnecessária, tendo em conta que fui informado que já não poderia entrar por estar atrasado. Boa, eu precisava de um tempinho para o café matinal! "¿Puedes ayudarme por favor? Dónde es la cafetería?" eu sei, bastante original. Obviamente que perguntava tudo a pessoas diferentes, de forma a assegurar que ninguém se apercebia de que esta era a única frase que conseguia pronunciar em Espanhol correcto.
Café tomado, lá fui eu para a porta da sala uns minutos antes, de modo a garantir que podia entrar na sala. Eu. João Pedro Branco Coelho. Até parece mentira eu sei, mas é verídico (Marcelinho gritando parece verídico). Eu estava mesmo à porta da sala antes do professor chegar.
Entretanto uma rapariga sentou-se perto de mim, porque viu que eu tinha ar de Erasmus. Somos fáceis de identificar: ar de perdidos, geralmente sozinhos, a ler papéis de publicidade que encontrámos no chão para fingir que estamos muito ocupados e com uma expressão desesperadamente simpática para ver se alguém mete conversa connosco. Somos um género de leprosos nas turmas, que estão num cantinho, dos quais ninguém se aproxima. Chamava-se qualquer coisa que já não me recordo, mas era de França e estava a tirar mestrado em Criminologia. Tivemos a habitual conversa, que também já percebi ser a que está formatada para os estudantes do programa: "És de onde?", "Como te chamas?", "Que curso estás a tirar?", "Onde estás a viver?" acrescentando algumas informações/curiosidades irrelevantes sobre a estadia ou sobre o motivo da vinda, finalizando com um momento constrangedor em que se acaba o tema de conversa ou se fala de coisas totalmente fora de contexto.
Lá fui eu para dentro, pensando que ia ter Direitos Fundamentais, mas aqui nada é o que parece, e afinal entrei na aula de Sociologia, porque as almas mudaram o horário e obviamente ninguém se lembrou de nos avisar. No entanto, essa aula, serviu para conhecer a Amanda da Suécia, à qual tive pouco tempo para colocar todas as questões do interrogatório, porque ela resolveu que não ia ficar a assistir a uma aula que nem sequer tinha de fazer (tal como eu). Como sou um cavalheiro, deixei-a tomar a iniciativa de se levantar e sair primeiro, assim as atenções ficavam todas focadas nela, longe de mim querer roubar-lhe as luzes da ribalta. Enquanto ela saía distraindo as atenções, eu escapei-me de fininho, do género: "OOOH, olhem só, ela a sair durante o meio da aula, que falta de respeito!", e pisguei-me dali pra fora. Aproveitei este tempo para ir ao Gabinete de Relações Internacionais, que fica bem no centro de Salamanca. Serviu para muito pouco, fui lá para me darem meia dúzia de papéis para ter dentro da mala a encher, o bom da coisa é que passei por quase todo o centro histórico.
Quando voltei para cima, fui às compras como verdadeiro dono de casa em que me tornei, após uma tentativa falhada de me matricular. O Dia é o meu novo supermercado favorito, tendo em conta que consegui trazer muitas coisas, por apenas 10 euros. Viva a mim e às minhas compras fantásticas. HIP HIP, URRA! Fiz o meu almocinho, e lá voltei à faculdade para a aula da tarde, que é nada mais, nada menos, que as aulas de Economia e Finanças Públicas que eu já tive no ano passado, compiladas numa única cadeira. Que cadeira chata. Chata que dói. Dói mais que as minhas pernas de subir e descer escadas na faculdade (por falar nisso, tenho de ver se encontro a porcaria dos elevadores, este corpo não mantém a forma física a andar de escadas). Apesar do professor ser bastante simpático e eu ter conseguido apanhar (quase) tudo o que ele disse, não houve lugar a apresentações. Aqui a primeira aula é logo a doer, com duas horinhas de matéria, existindo envio prévio aos alunos daquilo que devem estudar para a primeira aula. Sim senhor, muito bonito. E eles todos aplicadinhos já com os livros todos sublinhados e cheios de perguntas. Adorei o entusiasmo. Gastaram vinte e cinco euros a comprar um livro em vez de o gastarem numa futilidade qualquer. São o orgulho dos papás. Não. Matem-se.
Continuando o espírito de ser empregado doméstico, fui novamente com a Inês às compras, desta vez para trazer detergentes e coisas lindas para a casa, como tachos e caixas de plástico. Decoração contemporânea, se fosse eu a fazer isto, diziam que era louco.
Para o jantar, e já depois do filho-chato-da-senhoria-que-às-vezes-anda-nú-e-é-guarda-prisional (também conhecido por Joaquim) ter dado de frosques até dia 7, o João lá cozinhou uma lasanha e portanto a Inês não passou a tal barrigada de fome que eu tanto temia.
Como estávamos mortos, ficámos por casa e combinámos sair amanhã. No entanto, em vez de ir dormir, fiquei mais uma vez feito paspalho em frente ao computador.
Cansa-me a beleza escrever um diário, daqui a uns dias contrato alguém para desempenhar essas funções.

Durmam bem, beijos abraços e muitos palhaços, porque amanhã tenho aulas das 9h da manhã até às 9h da noite.


P.S - A merda do meu pc bloqueou 50 mil vezes a escrever isto, não tenho qualquer tipo de ideia porquê. No entanto já são 3 da manhã e estou com sono demais para ir corrigir os meus erros. Deal with it.

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